.........Criar conta
LIVRO VII
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Agora recomeçaremos o nosso exame tomando outro ponto de partida e frisando que há três espécies de disposições morais a ser evitadas: o vício, a incontinência e a bestialidade. As disposições contrárias a duas delas são evidentes: uma chamamos virtude e outra, continência. À bestialidade, o mais adequado seria opor uma virtude sobre-humana, a espécie heróica e divina de virtude que escreve Homero quando faz Príamo dizer que Heitor era excepcionalmente bom: "pois não se assemelhava ao filho de um mortal, mas parecia ter se originado da semente de um deus".[1]
Desse modo, como comumente se diz, se os homens se tornam deuses pelo excesso de virtude, evidentemente deve ser dessa espécie a disposição contrária à bestialidade, pois assim como um ser bestial não tem vício nem virtude, tampouco os têm os deuses; seu estado é superior à virtude, e o de um ser bestial difere em espécie, do vício.
Assim, como é raro encontrar um homem divino - para usar o epíteto dos espartanos, os quais, quando têm grande admiração por um homem, o chamam de "divino"-, da mesma forma o tipo bestial é raramente encontrado entre os homens. É encontrado principalmente entre os bárbaros, mas algumas características bestiais são também produzidas pela doença ou pela deformidade; e também damos esse nome mau àqueles cuja deficiência moral vai além da medida comum. Faremos um exame rápido dessa espécie de disposição mais adiante.[2] Quanto ao vício, já fizemos sua exposição. Agora discutiremos a incontinência e a frouxidão (ou efeminação), e também as suas disposições contrárias, a continência e a fortaleza. Nenhuma das disposições desses dois pares deve ser considerada idêntica à virtude ou à maldade, nem tampouco como um gênero diferente. Conforme procedemos em todos os outros casos, passaremos em revista os fatos observados e, depois de discutir as dificuldades, tentaremos provar, se possível, a verdade de todas as opiniões comuns sobre