COTAS RACIAIS EMBATE DE IDEIAS
AS FAMIGERADAS COTAS RACIAIS E A DIFICULDADE DE INTERPRETAR O ÓBVIO
Arnan, uma coisa é certa: quem teve um bisavô negro e escravizado acumulou perdas. Essas pessoas têm um crédito. Não ônus. Como muitos imaginam. Seu discurso sobre o tema cotas e contraditório. Você elenca várias situações de flagrante racismo, inclusive dentro do seu próprio trabalho, e quando levantam a bandeia da inclusão, com modestos 20 ou 30 por cento para adentrar na faculdade, você é radicalmente contra. Raça para você só existe quando é para excluir e quando é para incluir levantam logo o indefectível discurso que a ciência não comprova que existem raças. Fique sabendo, Arnan, que a ciência não comprova a existência de Deus, mas as pessoas creem na existência de Deus, assim como a ciência não comprova a existência de raças, mas as pessoas creem na ideia de raças. Cansei do velho discurso que a constituição fala que todos nós somos iguais perante a lei. Dentro de uma perspectiva formal sim. Agora numa perspectiva material até uma criança de três anos sabe que isto é balela. Formalmente nas linhas gerais da Constituição somos iguais, mas materialmente o pau só come para os crioulinhos. O que me surpreende é que esse discurso vem de pessoas com certa estrada e bagagem. Sempre falei que o racismo no Brasil é institucionalizado. O mais curioso é que no Brasil existe racismo sem racista. As pesquisas dizem isso; recentemente um instituto fez a seguinte pergunta: existe racismo no Brasil? 98% dos entrevistados disseram que sim. Logo em seguida fizeram outra pergunta: você é racista? 99% disseram que não. Uma das contradições mais hipócritas dessa massa brasilis. O que mais me surpreende é você querer desmitificar o óbvio: que a escravidão não criou cidadãos de primeira e segunda classe. E que o genocídio que se abateu no povo negro não foi responsável por uma das maiores exclusões no sistema produtivo de um país. Que já perdura há mais de 400 anos. Isso