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Descobrir a especificidade do discurso filosófico – a sua riqueza e abrangência, bemcomo seus possíveis limites – constitui uma empresa que deve ser realizada por todo aquele queassume uma postura realmente crítica frente ao seu saber. A teoria da argumentação, ao colocar em questão o próprio discurso filosófico, realiza este estudo preliminar e assume a posição deuma autêntica meta-filosofia, de grande valia para o filósofo que deseja compreender melhor oseu próprio discurso.O presente trabalho é um recorte neste universo da argumentação filosófica, haja vista aimensidão do tema – sobretudo se levarmos em consideração todos os seus infindáveisdesenvolvimentos, vindos das mais variadas tradições e dos mais diversos campos de estudo.Optamos por nos limitar à contribuição de Chaïm Perelman e de seu conceito de auditóriouniversal .
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Essa escolha se justifica, sobretudo, pelas seguintes razões: (a) a importância e o pioneirosmo de seus estudos, que foram fundamentais para o desenvolvimento da teoria da
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Em razão do desconhecimento que se tem, sobretudo entre os filósofos e no Brasil, da vida e obra de Perelman,apresento aqui uma biografia resumida. Chaïm Perelman (1912-1984) nasceu em Varsóvia e transferiu-se paraBruxelas em 1925, naturalizando-se belga. Em seus primeiros passos intelectuais, Perelman recebeu uma sólidaformação jurídica – escrevendo uma tese de doutoramento em direito, concluída em 1934 – e também em lógicaformal – ocorrida no decorrer da década de 30 sob a influência do neopositivismo, defendendo uma tese dedoutoramento em 1938, sobre o lógico alemão Gottlob Frege. Na década de 30, voltou à Polônia para estudar nafamosa Escola Polonesa de Lógica, Matemática e Filosofia Positivista, onde foi aluno de Kotarbinski e Lukasiewicz.Com o advento da Segunda Guerra, toda essa formação logicista acabou se voltando contra ela mesma. Perelman, deorigem judaica, não concordou em entregar o discurso sobre os valores ao arbítrio – que seria a