Coordenação nervosa
N º 5 [ j a n – j u n 2 0 1 0 ] I S S N 1 9 8 3 - 2 4 3 5
DESCOSTURANDO A LÍNGUA: O CASO DA
MUDANÇA E DAS INTERFERÊNCIAS LINGUÍSTICAS NO
PORTUGUÊS DE MOÇAMBIQUE
Leonarda Menezes
Em Moçambique, o português encontra-se em situação de contato com as línguas do grupo banto , algumas línguas de origem asiática, como o urdu, o gujurati, o indi e o memane e ainda o inglês, língua de front eira. Apesar de o português ser a língua adotada como úni ca língua usada em contexto formal, logo após a independência do país, ainda é uma língua segunda (L2) para a maior parte dos seus falantes. Verifica-se q ue a situação de contato linguístico, por um lado, e o estatuto de L2, por o utro, são fatores de relevo no processo de variação e de mudança dessa língua em M oçambique. Com efeito, a interação do português com outras línguas distintas concorre, fortemente, para a variação gramatical e, em alguns casos, para a muda nça linguística. Portanto, pode- se afirmar que os falantes
1
mudam as línguas com o tempo. Os seres humanos/ se res sociais, que vivem em sociedades, falam línguas e a s línguas vão mudando com o tempo. Daí, poder-se afirmar que há uma impossibil idade de separar mudança e variação linguística.
No entanto, muitos sociolinguistas dizem que não ex iste “variação linguística livre”. Toda a variação é condicionada linguisticamente e/ou socia lmente, dependendo do contexto linguístico em que se encontram os falantes. A existência de varia nte é indício de processos de mudança ocorridos ao longo do tempo, e cada variante traz em si a his tória daquela variedade linguística e de seus falantes. Esse conceito de mudança linguística é problematiza do por (BAGNO, 2009:23), a propósito do que é ou não errado falar, quando afirma que “não s e pode definir o uso de uma língua, em seu estado atual, com base nos usos feitos há dois mil anos atrás por falantes de outra língua, no outro lado do mundo.” Para esse