Convenc; ao 98 da oit
César Augusto Nunes[1]
Há uma música muito popular que tem o seguinte bordão: Amélia é que era mulher de verdade (...) às vezes passava fome ao meu lado, e achava bonito não ter o que comer (...) Amélia não tinha a menor vaidade (...) dizia - Meu filho, o que se há de fazer? E por aí vai a contraditória canção! Se considerarmos que toda obra cultural expressa uma determinada ideologia, que todo texto, seja ele escrito, seja uma música, tem por trás de si um pretexto, uma motivação política, às vezes explícita, às vezes oculta, teremos que fazer uma análise crítica dos elementos subliminares que estão postos por essa curiosa composição do glorioso ator comunista Mário Lago: a mulher de verdade seria aquela que não teria nenhuma vaidade, nenhuma pretensão além do comum, aquela que se conforma com as coisas do jeito que elas são, eminentemente passiva e aceitativa, que não reclamaria de nada, que acharia até elegante passar fome, numa dramática ironia que ultrapassa qualquer bom senso e expropria qualquer licença poética! Será mesmo que concordamos com essas premissas e teses? E eu gostaria de perguntar mais profundamente, sem agressividade, será que superamos essa concepção da condição social da mulher, depois de conquistadas tantas e tantas bandeiras nesse paradoxal século XXI? Nós, homens e mulheres somos todos tributários de uma determinada cultura e civilização. Pois o machismo ou sexismo não é uma prerrogativa de homens e a emancipação feminina não é tão somente uma causa das mulheres. Na perspectiva revolucionária o sexismo é uma forma específica da opressão de classe, que tem sua raiz no sistema social e econômico. É o modo de produção que engendra as instituições e conforma as culturas e condutas. Assim, para se chegar às causas da opressão e dominação de gênero importa reconhecer as formas de regulação do sistema capitalista. Ao defrontarmos com as violências perversas e insidiosas perpetradas