Conto sobre o tédio
Sempre esperava algum convite, ou uma mensagem pela internet ou celular, ou algo interessante que me tirasse a atenção de suas piadinhas sem graça, seus risos maldosos, apontando para o meu rosto e dizendo que vida divertida eu tinha, assistindo filmes que eu já vira, lendo livros que eu já lera, ou só matando cada segundo em sua companhia desprezível.
A cidade é boa: bares, praças, pessoas legais. Mas o que se faz numa cidade em que se têm poucos e ocupados amigos? E mais, onde se tem um salário de fome, que mal dá para alimentar uma pessoa solteira? Quando é assim, meu amigo, precisamos de convites. Não necessariamente de convites de amigos verdadeiros, mas pelo menos aqueles que nos paguem uma cerveja gelada num barzinho sujo, ou uma garrafa de uísque barato para ser apreciada numa praça cheia de outros desgraçados, que também procuram por amigos, ou por um fumo de graça.
E quando os convites não chegam? Aí existem duas opções: ou se divertir sozinho, ou mergulhar na solidão de um quarto abafado, com uma cama de cheia de lençóis com cheiro de suor, uma internet lenta, e pessoas desprezíveis nas redes sociais, com quem se tenta manter algum contato – muito mais pela necessidade que tem em se comunicar com alguém, que não o cachorro ou o gato, do que por afeto por elas.
A casa parecia me engolir! O silêncio me ensurdecia. Não, não é metáfora barata de poesia, o silêncio ensurdece mesmo.