Conto do enigma
— Desculpe, senhor — disse nosso criado, ao abrir a porta —, mas esteve aquium cavalheiro que perguntou pelo senhor.
— Quanto tempo esteve à espera?
— Meia hora. Era um cavalheiro inquieto. Todo o tempo que aqui esteve, andou de um lado para outro e batia os pésno chão. [...] "Esse homem nunca mais vem?" Foram essas suas próprias palavras, senhor. Eu respondi: "Queira esperar um pouco mais". "Então esperarei ao ar livre, porque tenho pressa. Voltarei maistarde." E foi-se embora.
— Bem, você fez o que pôde — disse Holmes quando entramos. [...] Espere! Aquele cachimbo em cima da mesa não é seu!
— Nosso homem deve tê-lo esquecido, meu caroWatson. É um belo cachimbo de roseira, com um cabo comprido, de uma substância a que os tabaquistas chamam âmbar. [...] Mas o homem deve ter sofrido um distúrbio mental para se esquecer de uma coisaque tanto estima.
— Como sabe disso? — perguntei.
— Bem, calculo o custo original do cachimbo em sete xelins e seis pence. Ora, ele já foi consertado duas vezes, como se vê: no cabo demadeira e no âmbar. Cada um desses arranjos, feito com anilhas de prata, deve ter custado mais do que o cachimbo. O homem tem de estimá-lo muito para preferir mandar consertá-lo a comprar outro com omesmo dinheiro.
— Alguma coisa mais? — insisti, vendo Holmes virar o objeto na mão e observá-lo a seu modo peculiar e pensativo.
— [...] O dono deste objeto é um homem musculoso, canhoto ede excelente dentadura. Além disso, é descuidado em seus hábitos e não tem a menor necessidade de fazer economia.
— Você acha que um homem precisa ser rico para fumar um cachimbo de sete...