Conto - As Lavadeiras
Dias atrás, voltando de uma pequena viagem, ao passar numa área rural uma visão inaudita me chamou a atenção: um quadro que me remeteu à infância lá na fazenda, nas grutas, nos riachos, nas várzeas alagadas. Uma cena nostálgica que já foi inspiração para pintores, escritores e até produtores de filmes, e que hoje foi substituída pela lavadora ou lavanderia. Naquele momento me dei conta de que a vida moderna nos rouba as coisas prosaicas para nos devolver um punhado de máquinas e apetrechos industriais que passam a nos monitorar como se fossemos robôs. A modernidade vicia, nos faz dependentes de uma tecnologia cada dia mais excelente; os eletrodomésticos são prioridade em nossa casa, em nossa vida. A parafernália eletro-eletrônica – computadores, celulares, tvs, dvds, fornos, sons, máquinas de lavar, de secar, etc. etc. dita as regras e nos faz reféns no nosso dia a dia, não nos permitindo ver o que nos rodeia. Para minha sorte naquela hora o dvd e o som do carro estavam desligados, o que me permitia apreciar a paisagem lá fora. A minha direita, a uns duzentos metros da rodovia uma meia dúzia de mulheres vestindo chita colorida, com lenços na cabeça; algumas misturadas à vegetação das margens, outras encarapitadas no barranco, esfregavam roupas que à distância, refletidas no espelho d água, pareciam todas brancas. Fazendo coro com o murmurar do riacho, uma voz puxava a cantiga de lavadeira, enquanto as outras faziam o refrão. ----------#########----------