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A eleição de Collor marca o desfecho contraditório da transição conservadora, que chega a seu final sem ter conseguido isolar os trabalhadores, nem ter feito da disputa política assunto de mera economia doméstica das classes dominantes. Ao contrário, são os de baixo, liderados pelo PT, que – apesar do muito que ainda têm para avançar – já ocupam o centro da oposição.
De um lado, as classes dominantes conseguiram aprovar uma Constituição que preserva uma organização profundamente autoritária do Estado brasileiro, garante os poderes do grande capital e do latifúndio e, em particular, torna inconstitucional a possibilidade de intervenção das Forças Armadas no processo político. De outro lado, a transição para a Nova República se encerra com o desgaste avassalador e a ruína eleitoral dos partidos que formam a Aliança Democrática. O
Governo Collor elege-se tendo o desafio de centralizar os esforços para a criação de partidos ou coligações partidárias que lhe garantam uma base. Este é, assim, um dos problemas capitais das classes dominantes para enfrentar a crise econômica e social. Apelando diretamente ao eleitorado – a quem chama de “pés-descalços” e
“descamisados” – com um discurso supostamente antielites, privatizante, neoliberal e modernizador, Collor de Mello apresentou-se à burguesia brasileira como alternativa ao fracassado Governo Sarney, ao mesmo tempo que a livrou de uma derrota frente aos setores populares: um governo democrático-popular, encabeçado por Lula.
Atropelando a ética política, combinando suas propostas de reforma do capitalismo com ataque aos cartórios e à especulação, Collor imprimiu à sua campanha uma forte linha de autoritarismo, de violência, de anticomunismo e de demagogia. Assim é que sua vitória, obtida sobre a crise de autoridade do Governo
Sarney, pelo temor da hiperinflação decorrente do descalabro econômico que se arrasta há dez anos e como saída contra as esquerdas, confirma o caráter