Contemporaneidade
Em “O que é contemporâneo?”, Giorgio Agamben apresenta a tarefa difícil que leva o título do ensaio. Ser contemporâneo, entre inúmeros atributos é conseguir “enxergar no escuro” apesar das “luzes” de informações que nos cercam; e nesse exercício de percepção do obscuro nos será exigido habilidade e vontade.
Ao citar a tentativa (bem sucedida) de Nietzsche de ser contemporâneo, Agamben mostra a necessidade do anacronismo, de não se encaixar perfeitamente com o seu tempo, de não estar de acordo pleno com ele, só assim é possível apropriar-se ativamente da sua época, da sua história, da sua contemporaneidade.
Claudia Fonseca vai mostrar que está à altura dessa exigência em seu livro “Família, Fofoca e Honra: etnografia das relações de gênero e violência em grupos populares” liberando um rico conteúdo que estava, até então, no escuro. Na árdua tarefa que mostra seu estilo refinado de fazer com que o leitor se livre dos automatismos como “o pobre coitado” ou “família desestruturada” e trave uma batalha junto dela, contra o natural, o espontâneo.
Utilizando de maneira eficaz a etnografia, Claudia Fonseca exercita com o leitor a habilidade de relativizar, de suspender o juízo sobre algo. Mostra que ser contemporâneo não é aderir ao que está sendo convocado a aderir; ela estabelece uma relação singular com o tempo, de não aceitação imediata do que está colocado para nós, naturalizado; e mais ainda, colhe dados, os apresenta, relaciona com o teórico e apresenta suas conclusões (pouco conclusivas – um estilo dela de exercício de contemporaneidade, que mostra a coexistência de diversas formas de relação com o mundo) para nos fazer enxergar o obscuro.
Para enxergar aquilo que é escuro, Agamben vai lembrar que é necessário ter essa exigência de ser contemporâneo com você, para liberar elementos que não estão livres ainda, para tanto é necessário um estilo. Claudia Fonseca, todo o tempo, reforça seu estilo, a exemplo de seu modo de