Conflito de Agência às Avessas
ROMPENDO COM O ALTRUÍSMO FAMILIAR
RESUMO
Este artigo examina a relação entre altruísmo e conflito de agência em empresas familiares por meio do estudo de caso em profundidade de uma empresa brasileira de controle familiar. Dentre as diversas correntes da literatura que apontam os efeitos do altruísmo no desempenho de uma empresa familiar, o autor optou por abordar sua face negativa e discorrer sobre o papel de um agente externo na ruptura da cultura altruísta. Com base na realidade desse estudo de caso, é introduzido o conceito do conflito de agência às avessas, que enfatiza uma realidade na qual o principal não é quem busca com ênfase a maximização do valor da empresa, mas o agente que, usando o contrato como instrumento de delegação, negocia autonomia para o bom cumprimento de seu papel – zelar pelo interesse econômico do próprio principal. O artigo reflete, também, a importância da confiança como fator que mitiga os custos de agência, sobrepondo-se ao contrato formal. Por outro lado, reforça a validade de sua utilização em momentos de transição, até o desenvolvimento da relação de confiança. O autor também revela as dificuldades inerentes ao processo de transição em empresas familiares, que exigem o reposicionamento de papéis do principal e de seus agentes quanto a suas funções sociais, como forma de reduzir conflitos entre eles, causados pela superposição de atribuições.
INTRODUÇÃO
O conceito e a aplicação de princípios de governança corporativa se consolidaram de forma mais estruturada a partir do final do século passado, como forma de coibir ações oportunistas de executivos de grandes corporações de controle pulverizado, notadamente nos mercados anglo-saxões. Em empresas dessa natureza, os acionistas praticamente não detêm o controle da companhia, que fica efetivamente a cargo dos executivos. A consequência natural da separação entre propriedade e controle é que os acionistas delegam aos executivos o direito de