Comunismo, do que se trata
Sergio Lessa – Depto. De Filosofia da UFAL e membro da editoria da Revista
Crítica Marxista.
Introdução
A relação entre a obra de Marx e a filosofia talvez possa ser mais claramente explicitada se partimos de uma das categorias centrais, senão a central, do seu pensamento: o comunismo.
A humanidade, do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas, conheceu duas revoluções verdadeiramente decisivas.
A primeira foi a Revolução Neolítica, há aproximadamente 10 mil anos atrás.
A descoberta da semente tornou possível, pela primeira vez, que o indivíduo que trabalhasse produzisse mais do que o necessário para a sua sobrevivência imediata. Ao invés da situação precedente, na qual tudo o que era produzido era imediatamente consumido, com a descoberta da agricultura abria-se a possibilidade de se acumular produtos resultantes do trabalho humano: surgia, assim, a riqueza e a possibilidade de sua acumulação. Para que fosse plenamente explorada, esta nova possibilidade histórica exigiu profundas alterações na vida social. Foi necessário a passagem do nomadismo ao sedentarismo e exigiu o surgimento das primeiras formas de exploração do homem pelo homem(escravismo e modo de produção asiático).
A divisão da sociedade em classes sociais tornou imprescindível a gênese e desenvolvimento de uma série de complexos para ordenar a nova forma de reprodução social, como o Estado, o Direito e o casamento monogâmico. As potencialidades de desenvolvimento inerentes à esta nova forma de reprodução social não podem ser exageradas: retirou a humanidade do período pré-histórico e, no Ocidente, colocou o gênero humano em uma processo histórico que conduziu, com avanços e recuos, ao capitalismo de nossos dias.
A nova sociabilidade surgida da Revolução Neolítica tinha, todavia, um forte limite: o "afastamento das barreiras naturais" era ainda tão incipiente que as ferramentas e as técnicas que podiam ser empregadas eram aquelas