Como a crise afeta o Brasil
Antonio Corrêa de Lacerda
De São Paulo
O agravamento da crise internacional após a quebra do quarto maior banco norte-americano, o Lehman Brothers, acirrou as preocupações quanto ao seu contágio para a economia brasileira.
Com a economia cada vez mais globalizada, também não há mais crises localizadas. Os impactos já são visíveis na Europa e no Japão, que estão tendo forte desaceleração do crescimento econômico, tendendo a uma recessão, no caso europeu.
Os países em desenvolvimento hoje têm mais peso na economia mundial. Porém, não estarão imunes à crise. O impacto imediato será uma redução do crescimento. O crédito ficou mais caro, o que vai dificultar o financiamento dos projetos de investimentos.
Talvez o maior risco para a continuidade do crescimento da economia brasileira atual não seja a incerteza do cenário internacional, nem mesmo os gargalos internos. O grande desafio é livrar-se de falsos dilemas e comprometer a todos, governo e agentes econômicos, com o "espírito do crescimento".
A nação convive com um imenso "déficit" social. A cada ano, 1,8 milhão de novos trabalhadores procuram o seu primeiro emprego, nem sempre com sucesso. Há também uma dívida junto aos cerca de um quinto dos jovens entre 17 e 24 anos que permanecem desempregados, apesar da reativação da economia.
O crescimento se constitui num imperativo para um País com as características brasileiras. Não que a expressão quantitativa do crescimento seja suficiente para consubstanciar a melhora qualitativa do desenvolvimento. Mas este não se realiza sem aquele, sendo, portanto, uma condição necessária.
A análise econômica convencional tem se pautado nas questões que envolvem as restrições ao crescimento econômico brasileiro. A idéia do PIB potencial, nível, a partir do qual adviriam pressões inflacionárias, é bastante questionável. Primeiro, porque se revela tautológica. Como as decisões da política econômica se pautam em um "teto" para o crescimento, esse se transforma