Como preservar a memória familiar
A “história constitui-se apenas se a olharmos e, para a olharmos, devemos estar excluídos dela”1. Os acontecimentos históricos não são vividos. Em oposição a memória colectiva é revivida a cada momento que passa.
Para a existência de uma memória colectiva é essencial a existência de núcleos familiares que através da criação de memórias familiares, constroem uma identidade cultural. Pierre Bourdieu refere que cada chefe de família que se constitui retratista torna-se num historiógrafo. Cada álbum de família é um retrato fiel de um período, de uma época, de uma sociedade.
Teria sido possível reconstruir o centro de Varsóvia sem o recurso à fotografia? A cidade reconstruída só é monumento por ser uma réplica da destruída. A fotografia faz reviver o passado, avalizando a história, retratando monumentos, com uma certeza que nenhum escrito pode dar.
Às fotografias de família juntam-se os postais comprados, criando assim um verdadeiro
“arquivo” da memória familiar que evoca momentos que merecem ser recordados e transmitidos às gerações vindouras.
À semelhança dos gabinetes de curiosidades cada família é também um repositório de colecções de objectos da mais variada ordem, móveis, cartas, diários, documentos, etc.
Estes objectos, parte de um passado, são bens com história, embrionários dos actuais museus. Desde os vulgares objectos do dia-a-dia a colecções, interessa preservar este espólio, fundamental para o entendimento da identidade cultural.
Resta ainda mencionar as tradições familiares, os acontecimentos, as datas, as histórias dos avós que fazem a ponte entre as gerações, que preservam a memória do passado, mantendo, renovando e transmitindo a identidade familiar.
Considerando assim a inserção das famílias numa camada da sociedade mais ampla e que comunga do mesmo modo de vivência familiar, surge a memória colectiva, fruto de intrincadas interacções.
Das famílias surge assim o fundamento moral da