Comida
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
Há quem diga que o ser humano não necessita de nada além do pão e do vinho para sobreviver. Realmente, talvez não haja mais nenhuma necessidade física e básica além dessas para um homem. Mas e quanto às necessidades psicológicas? E quanto ao alimento da alma? Bebida e comida não são o bastante. Bebida e comida são o que necessitam uma vaca: água e pasto, nada mais. O homem necessita mais do que isso. O homem anseia mais, tem sede e fome de muitas outras coisas.
A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer.
É, então, que o eu lírico nos segue dizendo o que ele realmente quer. Como já nos esclareceu, comida não é o suficiente (embora não seja dispensável). O ser humano, em sua visão, necessita também de arte, de cultura, de diversão. E, mais do que sair para onde quer, anseia liberdade; poder decidir sobre a própria vida.
A gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor.
O interessante dessa estrofe nem é o seu significado em si, mas o modo que o autor utiliza para compô-la. Observe que "comida" é substituída por "comer" que, por sua vez, não mais apresenta sentido literal. Faz-se uma clara apologia à Revolução Sexual, principalmente na transferência dos anos 70 para os anos 80. Aqui, o eu lírico nos diz querer mais do que comer, nos diz querer fazer amor. Mas é bom notar que ele não dispensa o "comer", ele apenas agrega o "fazer amor". Não é apenas sexo por sexo (não na maioria das vezes). Interessante também é notar o perfil que se forma do jovem dos anos 80/90, repleto de dores psicológicas, lutando contra isso de todas as formas.