Comida de rua
Almir Chaiban El-Kareh e Héctor Hernán Bruit
Gostaríamos de verificar, neste trabalho, como e em que medida os anúncios dos jornais podem servir como fonte para a história social da alimentação no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Interessa-nos, aqui, apenas a análise dos espaços privado e público da produção e do consumo de alimentos, ou seja, o doméstico e o comercial, inclusive as pensões, que se situavam na fronteira entre estes dois espaços.
Pressupomos que o crescimento econômico da cidade do Rio de Janeiro, a partir de 1850, fortemente estimulado pela implantação de numerosas linhas transatlânticas de navegação a vapor – que a ligavam à Europa e aos Estados Unidos – e de linhas marítimas e ferroviárias – que facilitavam sua relação com o seu interior e com as demais províncias –, tenha sido acompanhado de uma forte expansão demográfica. E que, assim, se tenha constituído, por um lado, uma numerosa camada social de alto poder aquisitivo, formada não só de comerciantes, banqueiros, industriais e profissionais liberais nacionais e estrangeiros, mas também de fazendeiros e todo o pessoal ligado à burocracia do Estado, facilmente permeável aos valores europeus e hábitos e costumes importados; e, por outro, uma crescente população livre e pobre, de homens e mulheres, nacional e estrangeira, especialmente européia, atraída pela possibilidade de emprego no comércio e em residências, ou de realizar o sonho de possuir um pequeno negócio ou ateliê.
Pensando nessas questões, escolhemos o Jornal do Commercio, pois era o de maior tiragem e, por isso, devia ser muito procurado por aqueles ou aquelas que desejavam publicar anúncios de procura e oferta de empregados ou de propaganda comercial. Como nosso objetivo era testar algumas hipóteses, decidimos utilizar o método da amostragem. Inicialmente, todos os domingos dos meses de janeiro e julho