Coesão e coerência
“GRACILIANO RAMOS”
Graciliano Ramos escreveu uma carta para Condé, explicando a construção do livro Vidas Secas, retirei um trecho: “... No começo de 1937 utilizei num conto a lembrança de um cachorro sacrificado na Maniçoba, interior de Pernambuco, há muitos anos. Transformei o velho Pedro Ferro, meu avô, no vaqueiro Fabiano; minha avó tomou a figura de Sinhá Vitória; meus tios pequenos, machos e fêmeas, reduziram-se a dois meninos...” Graciliano escreveu o livro a partir de lembranças que vinham de sua vida, e aos poucos foi tomando forma seu único livro cujo tema é o Nordeste e seus problemas, a seca que leva as pessoas para longe, e os bichos esfomeados e sedentos. Um romance em protesto para que os políticos, os brasileiros voltem seus olhos para o drama dos nordestinos, para a reflexão. É um livro de tensão crítica, abordando o personagem pelo meio social em que habita e suas relações com ela; Fabiano, Sinhá e seus filhos não são apenas seres nordestinos, são cidadãos do mundo ali representados, guardando dentro de si mesmos muito de bicho, de gente, de ternura, de humildade e, representando toda a gente do sertão, nivelados aos animais, num estado de miséria subumana. Seca é a vida do sertão, seco é o homem do sertão. Massacrado pela caatinga (geralmente quando nos referimos a um cheiro ruim, falamos normalmente “que caatinga”, isto está relacionado ao sentimento de coisa ruim, fétida, de pouco valor, que nos incomoda), agredido pela seca, nem ao menos fala. A linguagem é escrita, econômica de adjetivos, ressecada feito o homem nordestino, feita a natureza que o cerca. Não há muitos diálogos, pois, as suas vidas são secas, com espinhos e arbustos retorcidos. Fabiano não é apenas um herói que a narrativa exige, mas um anti-herói que sua própria alma acolhe. Duro como a própria terra que nunca o acolhe nem abriga, é mesmo o bicho com o qual se designa. Ele ganha dimensão quando emerge da narrativa e vem,