classicismo
Estavas, lindas Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo, doce fruito,
Naquele engano da alma ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
Aos montes ensinando e às ervilhas
O nome que no peito escrito tinhas.
[...]
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co’o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?
Ledo: alegre.
Fortuna: sorte, destino.
Fermosos: formosos, bonitos.
Indina: indgna.
Mauro: moura, árabe.
TEXTO II
-“ Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos fama!
Ó fraudulento gosto que se atiça
Cua aura popular que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
“Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
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“Oh! Maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Digno da eterna pena do Profundo,
Se é justiça a justa lei que sigo e tenho!
Vã: ilusória, fútil.
Aura: sopro.
Sagaz: perspicaz, astuto.
Vitupério: ato vergonhoso ou criminoso.
Néscio: insensato, ignorante.
Profundo: inferno.
° Entre os cantos VI e IX, os portugueses chegam a Calicute, na Índia, e têm problemas com os mouros. Preparam-se, então, para voltar a Portugal; porém, devido a seus esforços e à sua coragem, são premiados por Vênus, que lhes oferece uma passagem pela Ilha dos Amores, onde podem livremente amar as ninfas, lideradas por Tétis.
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