Ciência como ideologia do espiritismo
A palavra ideologia é utilizada em diversos campos de estudo, como a filosofia, a lingüística, a sociologia e a política, recebendo diferentes significados1, dentre os quais adotamos, para este artigo, aquele que Mario Stoppino (In Bobbio, 1983, p. 585) denomina o “significado forte”: o de ideologia como falsa consciência do real. Um conceito negativo, “que denota precisamente o caráter mistificante de uma crença política”.
Dentro desse campo interpretativo, Jünger Habermas, último dos filósofos sociais da Escola de Frankfurt, ao tratar da relação entre conhecimento e interesse (1968a, p. 308), enfatiza que
“as idéias servem, muitas vezes, como esquemas justificativos de ações, sem ter em conta os dados da realidade, seus móveis reais. No nível individual, esse processo chama-se racionalização; no nível da ação coletiva, denomina-se ideologia. Nos dois casos, o conteúdo manifesto das proposições é falsificado por outro conteúdo latente refletindo os interesses de uma consciência aparentemente autônoma”.
Esse mesmo pensador alemão, em outro artigo (1968b), analisa a sociedade moderna e conclui que há um tipo de racionalidade que funciona como ideologia neste século: a razão tecnológica, que ele denomina de “nova ideologia” (p. 336), caracterizada pelo “agir racional-com-respeito-a-fins” (p. 342).
Não apenas para esse filósofo, como para diversos teóricos da sociologia da ciência, a ciência e a técnica se constituíram como ideologias da modernidade2. Alain Chalmers (1990), por exemplo, considera que a ciência se tornou a grande religião do século XX: as pessoas comuns acreditam no que dizem os cientistas, mesmo que nada entendam daquilo que escutam.
Nesse sentido, uma das características ideológicas da atualidade é que o discurso científico, aprisionado ao saber operacional, fragmentário e distante da compreensão comum, passa a ser utilizado como instrumento de legitimação de diversas crenças, sem