Civilização

“Além da civilização: a próxima grande aventura da humanidade”, publicado em 2001, traz consigo as características marcantes de um manifesto: de forma bastante explícita, o premiado autor Daniel Quinn utiliza-se da obra como um insistente apelo de mudanças em nossa sociedade hierárquica e (por consequência) desigualitária, propondo uma concisa maneira de ultrapassá-la. Banhada de caráter filosófico em que conhecimentos como as teorias socialistas de Karl Marx e a seleção natural idealizada por Charles Darwin são apenas alguns dos mencionados à medida que a leitura se aprofunda, Quinn demonstra sua genialidade ao desenvolver a obra inteiramente formatada em pequenos ensaios de uma página, permitindo assim que mesmo as ideias mais elaboradas se fragmentem e, conjuntamente com eficazes metáforas, se tornem claras e de fácil compreensão, elemento este essencial na disseminação de qualquer manifesto. Notoriamente, os ensaios apresentados na obra se agrupam ainda em seis partes. De título “Definição do problema”, a parte um do livro apresenta a afirmação de que nossa cultura só poderia ter surgido a partir do momento em que a comida está trancada sob a posse de alguém. Afinal, “[...]se ela não estivesse sob sete chaves, quem iria trabalhar?” (p. 11). A partir desse momento, a cultura tornou-se destrutiva e daí vieram os inúmeros programas que hoje vemos e que supostamente contribuem para “salvar o mundo”. A observação permite afirmar, entretanto, que essas medidas quase nunca são eficazes em sua totalidade. Inteligentemente, o autor expõe o sucesso do universo e seu equilíbrio que se dá apenas através de forças invisíveis e, analogamente, conclui que o mesmo deve ocorrer em comunidades desejosas da eficácia.