Cinismo e Movimento Estudantil
De acordo com Maquiavel, a reflexão sobre a ação surgiria na república porque, com ela, a experiência do tempo não se oculta. É somente a partir dessa experiência do tempo — e, portanto, da instabilidade e da indeterminação inerentes ao movimento da história — que se torna possível o advento de uma capacidade de agir que extrapole os limites institucionais estabelecidos e, com isso, concorra efetivamente para sua transformação. Visto que um dos grandes esforços empreendidos pelo florentino foi a destruição dos modelos ideais na política, é somente seguindo a verità effetuale, a “verdade efetiva das coisas”, que se pode orientar da melhor maneira possível a ação — e também pensá-la. Entretanto, o que vemos no movimento estudantil, de um modo geral, é justamente o velamento da experiência do tempo, que encontra seu fundamento em um determinado tipo de discurso suficientemente difundido ao ponto de se ter normalizado. Contra o que, exatamente, luta o movimento estudantil hoje? Contra o projeto do Rodas/do governo estadual de privatização da universidade, diríamos. Falar em projeto é sempre uma referência ao futuro, a algo que, inexistente no presente, se tenta realizar. Em certo sentido, seria razoável, então, falar de um projeto de privatização. Porém, em nosso discurso, a temporalidade está desfigurada: entrevemos esse futuro unicamente a partir de um presente quase estático, relegando o passado à mera contemplação e, no máximo, citando-o a título de exemplo. Trata-se de um processo típico da sociedade contemporânea, na qual “a continuidade do tempo (o tempo do projeto, da comunidade, da história) é representada como uma sucessão de intervenções num presente deslocado do fluxo denso da temporalidade”, como dizia Sarlo. No entanto, se temos a intenção de assumir uma posição crítica no interior da sociedade, devemos nos furtar a essa unidimensionalidade que subtrai a história da política; se quisermos realmente seguir a verità