A revolta era democrática, mas os partidos não tinham vez. Os grupos que se diziam apartidários em meio às manifestações que ocorreram no país, queimando bandeiras dos partidos de esquerda que apóiam as causas reivindicadas pela população, refletem o perfil do manifestante divulgado pelo Ibope. De acordo com a pesquisa feita em oito capitais brasileiras, 96% não eram afiliados a nenhum partido político, e 89% não se sentiam representados por nenhuma legenda. E, muito embora o movimento tenha começado por uma iniciativa do Movimento Passe Livre (MPL), apenas 14% dos entrevistados se dizia afiliado a algum sindicato, entidade de classe ou estudantil. A visível crise de representação é o resultado de um processo histórico que mostra um descompasso entre os partidos e o motor da história, e isso não é uma exclusividade brasileira. “Em vários lugares do mundo, a classe trabalhadora diminuiu de tamanho, as profissões manuais perderam a força com a mecanização dos trabalhos, e isso tem um impacto direto na visão de mundo das pessoas”. A mudança social pode passar também por um esgotamento da pauta do partido. Reciclar-se e criar uma nova agenda é fundamental para não se distanciar. Um exemplo desse fenômeno o PMDB, que, na época da ditadura militar, se chamava MDB e tinha como única proposta o fim da ditadura e a criação de uma nova constituinte. “Depois que o governo militar caiu, o partido perdeu sua unidade ideológica.” Por fim, os partidos no Brasil falham em representar a população brasileira por serem, na grande maioria dos casos, gerados no seio do poder. É o que explica o cientista político da FGV Octávio Amorim Neto. “Getúlio Vargas criou o PTB, que era de esquerda, e o PSD, que era de direita”, diz ele, citando dois dos principais partidos que compunham o sistema eleitoral na época, junto com a UDN, de direita. Todos foram dissolvidos durante a ditadura, que instaurou o sistema bipartidário composto pela Arena (da base política do