Cinema
(Cineasta soviético Dziga Vertov, 1923)
1. Introdução
Ao observar uma pintura, uma fotografia, ou ao assistir um filme, somos impelidos a acreditar que aquilo que estamos vendo é realmente o objeto, a cena e até mesmo a situação a qual nos foi concebida por meio de uma projeção. Sem nos darmos conta, mergulhamos naquele universo construído e, muitas vezes, os tomamos como certo ou real, não tanto pela concordância, mas principalmente por passividade e inoperância diante de algo que nos é dado como pronto. As imagens são aceitas, desse modo, menos como representantes de alguma coisa, do que como a própria realidade. No quadro de René Magritte, Ceci n'est pas une pipe, o artista traz à tona essa questão. Analisado por Michel Foucault, o apontamento é feito justamente para o fato de que “não se deve buscar no alto um cachimbo verdadeiro, é o sonho do cachimbo; mas o desenho que está lá sobre o quadro, bem firme e rigorosamente traçado, é este desenho que deve ser tomado por uma verdade manifesta...” (Foucault, 1988, p.11). Contudo, dentro da imensa gama de produções artísticas, nem todas têm a intenção de provocar tais questionamentos acerca de sua própria natureza, e acabam encontrando terreno de ação extremamente fértil, na medida em que “o espectador encontra-se fora da ação, privado de participações práticas”. (MORIN, In: Xavier, 1956, p. 154). O condicionamento da visão cria uma naturalização equivocada dos objetos. As imagens, que deveriam ser concebidas como referências de cultura, acabam por ser absorvidas como sinônimo de realidade, baseada na semelhança que trazem daquilo que projetam. O espectador alienado de todo processo de produção da obra, perde a maior parte daquilo que lhe é apresentado. O produto do trabalho, ou seja, o resultado concretizado como obra de arte é apenas um fragmento de