Cientificidade
Segundo ECO (2000)*, “um estudo é científico quando responde aos seguintes requisitos:
1) O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros. O termo objeto não tem necessariamente um significado físico.
A raiz quadrada também é um objeto, embora ninguém jamais a tenha visto. A classe social é um objeto de estudo, ainda que algumas pessoas possam objetar que só se conhecem indivíduos ou médias estatísticas e não classes propriamente ditas. Mas, nesse sentido, nem a classe de todos os números inteiros superiores a 3725, de que um matemático pode muito bem se ocupar, teria realidade física.
Definir o objeto significa então definir as condições sob as quais podemos falar, com base em certas regras que estabelecemos ou que outros estabeleceram antes de nós. Se fixarmos regras com base nas quais um número inteiro a 3725 possa ser reconhecido onde quer que se encontre, teremos estabelecido as regras de reconhecimento de nosso objeto. É claro que surgirão problemas se, por exemplo, tivermos de falar de um ser fantástico, como o centauro, cuja inexistência é opinião geral. Temos aqui três alternativas. Em primeiro lugar, podemos falar dos centauros tal como estão representados na mitologia clássica, de modo que nosso objeto se torna publicamente reconhecível e identificável, porquanto trabalhamos com textos (verbais ou visuais) onde se fala de centauros. Tratar-se-á, então de dizer quais as características que deve ter um ente de que fala a mitologia clássica para ser reconhecido como centauro.
Em segundo lugar, podemos ainda decidir levar a cabo uma pesquisa hipotética sobre as características que, num mundo possível (não o real), uma criatura viva deveria revestir para poder ser um centauro. Temos então de definir as condições de subsistência deste mundo possível, sem jamais esquecer que todo o nosso estudo se desenvolve no âmbito daquela hipótese.