CIENCIA POLITICA
ENTRE CIENCIA E RELIGIAO: alimentar o antagonismo?
Reforçar a reconciliação? Ou construir uma aliança?
Léo Pessini*
Para muita gente, ainda hoje, ciência e religião estão em guerra. Num interessante artigo intitulado “Conciliando ciência e religião”, Marcelo Gleiser, cientista professor de física que trabalha nos EUA (Dartmouth College, Hanover), bastante conhecido no Brasil, afirma
[...] acho extremamente ingênuo imaginar ser possível um mundo sem religião. Ingênuo e desnecessário. A função da ciência não é tirar Deus das pessoas. É oferecer uma descrição do mundo natural cada vez mais completa, baseada em experimentos e observações que podem ser repetidos ou ao menos constatados por vários grupos. Com isso, a ciência contribui para aliviar o sofrimento humano, seja ele material, seja de caráter metafísico (Gleiser, 2006, p.9).
É importante distinguir o âmbito de cada uma.
Enquanto a religião adota uma realidade sobrenatural coexistente e capaz de interferir com a realidade natural, a ciência aceita apenas uma realidade, a natural. Aqui aparece a razão principal do conflito entre as duas. Para a ciência, não é preciso supor que o que ainda não é acessível ao conhecimento necessite de explicação sobrenatural. A ciência abraça a ignorância, o não-saber, como parte necessária de nossa existência, sem lançar mão de causas sobrenaturais para explicar o desconhecido.
Só podemos falar em conciliação entre ciência e religião, segundo Gleiser, “quando ficar claro o papel social de cada uma. Negar uma ou outra é ignorar que o ser humano é tanto um ser espiritual quanto racional” Gleiser, 2006, p.9). O biólogo norte-americano David Sloan Wilson, da Universidade de Binghamton, autor do livro A catedral de Darwin: evolução, religião e a natureza da sociedade (versão em inglês), ao ser perguntado se num mundo sempre mais explicado pelos olhos da ciência existe espaço para a fé, responde que