Cien
Este é um bom começo para uma aula como esta. Na verdade um roteiro. O que ensinar sobre os primórdios da ciência, e pior, com que visão ensinar assunto tão importante e complexo?
A definição que conhecemos, e estamos habituados a reconhecê-la como única, é que a ciência é um conhecimento cuja finalidade consiste em descobrir as leis dos fenômenos. Ora esta é uma definição positivista de ciência. O que tentaremos passar alinha-se a uma outra abordagem: há uma verdadeira descontinuidade no processo histórico das concepções científicas. Existe em ciência o que Bachelard classificou como “corte epistemológico”. Nós médicos estamos em dupla desvantagem: a primeira é que fomos convencidos, verdade que nem todos, de que o biocentrismo contemporâneo (fruto de uma reforma de apenas 90 anos, o que na história do conhecimento humano não significa nada) é a única forma de raciocinar em medicina.
A segunda é que apesar da lógica clínica desmentir muitos dos dogmas que a ciência médica moderna nos impinge, continuamos acreditando que ela é uma verdade.1
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Antes deles, é necessário que se frise, alguns autores advertiam que havia uma grande probabilidade de que as afecções de origem mental predispuzessem o corpo a adquirir suscetibilidades mórbidas. Mas nem a abusiva citação do texto arquetípico, “Cármides” de Platão, no qual conclui que “os males do corpo procedem da alma”, nem as referências aristotélicas que negavam que o corpo fosse reduzido a
“domicilium animae” (domicílio da alma) mas elevado `a condição de um composto substancial indissociável, foram suficientes para sensibilizar os médicos, ao menos durante milhares de anos. Havia também a tendência em achar que as perturbações do corpo é que infligiam `a alma as piores e mais nefastas penalidades, é o caso do filósofo judeu Philo quem afirmou que “perturbações freqüentemente ofendem o corpo, e são as causas mais frequentes de melancolia”. O escritor e humanista inglês