Cidade Febril
Cortiços, febre amarela e vacinophobia: uma história na encruzilhada de muitas histórias
Magali Gouveia Engel
(*)
CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial.
São Paulo, Cia da Letras, 1996.
Objeto, nas últimas décadas de inúmeros estudos situados no âmbito das chamadas ciências humanas, os médicos e os higienistas, as doenças, as políticas de saúde pública, as instituições médicas, enfim as temáticas relacionadas à construção e à consolidação de saberes e práticas da medicina social vêm conquistando um espaço cada vez mais significativo no campo da história. No
Brasil, estes estudos têm sido marcados predominantemente por enfoques inspirados nas abordagens clássicas de Roberto Machado, Ângela Loureiro,
Rogério Luz, Kátia Muricy e de Jurandir Freire Costa1, construídas a partir da contribuição fundamental de Michel Foucault.
Seguindo uma linha de análise bastante distinta, Sidney Chalhoub - um dos nossos mais talentosos historiadores, reconhecido por seus importantes e instigantes estudos sobre cotidiano e trabalho 2 e sobre escravidão3 - faz uma incursão bem sucedida nas searas dos saberes e das práticas em torno da doença, da saúde e da cura. Os cortiços, as epidemias de febre amarela, o serviço de vacinação e a cultura vacinophobica aspectos que marcaram profundamente a trajetória da cidade do Rio no decorrer do século passado, são os objetos centrais das histórias das políticas de saúde pública, narradas em sua mais recente obra.
(*)
Professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense.
Cf. Roberto Machado e outros, Danação da norma: medicina social e constituição da psiquiatria no
Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1978; Jurandir Freire Costa, Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro,
Graal, 1979. Para uma avaliação crítica deste tipo de enfoque ver, por exemplo, o artigo de Maria Alice R. de
Carvalho e Nísia Verônica T. Lima, “O argumento histórico nas análises de