Choque de civilizações
Como a indústria de aço e ferro gusa está destruindo a floresta com a participação de governos
Introdução
Uma das regiões mais desmatadas e violentas da
Amazônia, Carajás – que engloba partes do Pará, do
Maranhão e do Tocantins –, teve um crescimento explosivo nas últimas décadas, desde que o governo decidiu, nos anos 80, transformar a região em polo de produção de ferro. Ali, o nível de devastação florestal é inversamente proporcional à presença do Estado.
Daquela época em diante, as áreas desmatadas aumentaram significativamente, e a produção de ferro gusa – matéria-prima do aço – também, puxada por uma demanda do mercado externo. Os investimentos do governo atraíram mais de 40 altos-fornos para a região, operadas por 18 empresas guseiras, gerando carvoarias por todos os lados. Os recursos para evitar os impactos sociais e ambientais, no entanto, não chegaram. No histórico da indústria, devastação florestal, conflitos de terra, trabalho escravo, poluição e outros problemas se arrastam até hoje sem solução. E o governo segue fechando os olhos para tudo.
Uma investigação de dois anos feita pelo Greenpeace mostra que essa lista de problemas continua de pé, e está atravessando as fronteiras do Brasil: largamente exportado para os Estados Unidos, o ferro gusa tem alimentado a indústria norte-americana de automóveis, que o transforma em aço para fabricar peças.
A pesquisa revela que as grandes montadoras naquele país, incluindo Ford, General Motors, Nissan, Mercedes e BMW, bem como o gigante de equipamentos agrícolas John Deere,
Da floresta ao carvão
Vendo do céu ou do chão, a cena parece tirada de um filme antigo: na região de Carajás, dezenas de carvoarias se espalham por áreas que um dia já foram densas matas. Nessas carvoarias, a floresta se transforma em carvão, que depois é queimado nos altos-fornos para produzir ferro gusa.
Quase sempre ilegais, as carvoarias são