Chica da Silva e o Contratador de Diamantes
Publicado em domingo, 19 setembro, 2010por Gabriela Mori
Mais um texto resgatado da minha vida acadêmica. Trata-se de uma resenha crítica do livro “Chica da Silva e o contratador de diamantes”, trabalho entregue para a disciplina História do Brasil Colonial II ministrado pela Prof. Dra. Laura de Mello e Souza, na Faculdade de História da USP, em 2007.
FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador de diamantes. O outro lado do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003
A literatura, a televisão e o cinema nos ensinaram uma Chica da Silva sedutora, mandona, redentora dos escravos. Chica, Francisca da Silva, era mulata, filha de uma escrava mina e um português, nascida entre 1731 e 1735 (data incerta) na região de mineração diamantina, mais precisamente no arraial do Milho Verde, distante seis léguas do arraial do Tejuco, comprada e alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, com quem viveu 16 anos e teve 13 filhos. A negra sensual que conseguia do senhor português o que quisesse e escandalizava a sociedade da época mostrou-se ser um mito inventado no século XIX e reapropriado de formas diversas, por épocas diversas, mas agora desconstruído pela vasta e aguda pesquisa realizada por Júnia Ferreira Furtado, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que culminou em Chica da Silva e o Contratador dos Diamantes: o outro lado do mito (Companhia das Letras), um estudo histórico sobre as relações de gênero e raça nas Minas Gerais do século XVIII.
O outro lado do mito é justamente a construção da personagem histórica de Chica da Silva. Júnia buscou em documentos, inventários e processos dos moradores do Tejuco e da região diamantina as informações das quais se valeu para resgatar a personagem histórica de Chica da Silva, livre dos conceitos românticos já arraigados em nossa memória. Recriar Chica não foi tarefa tão fácil, pois não há muitos documentos que se referem