Chaui
Cultura das elites e cultura do povo. Sentido da conjunção e:
1) Primeiro percurso interpretativo: “a cultura do povo é ou não é uma recusa explícita ou implícita da cultura das elites?” (p.40 - grifo meu)
No caso de uma resposta afirmativa, “estaremos diante de duas culturas realmente diferentes que exprimiram a existência de diferenças sociais, de sorte que seria preciso admitir que a sociedade não é um todo unitário, mas encontra-se internamente dividida”
Se a sociedade está realmente dividida, encontramo-nos diante de uma tentativa de camuflagem: “Neste caso, o autoritarismo das elites se manifestaria na necessidade de dissimular a divisão, vindo abater-se contra a cultura do povo para anulá-la, absorvendo-a numa universalidade abstrata, sempre necessária à dominação em uma sociedade fundada na luta de classes. Elite significaria precisamente elitismo e segregação, mas, ao mesmo tempo, afirmação de um padrão cultural único e tido como o melhor para todos os membros da sociedade. (...) Assim, negando o direito à existência para a cultura do povo (como cultura ‘menor’, ‘atrasada’ ou ‘tradicional’) e negando o direito à fruição da cultura ‘melhor’ aos membros do povo, as elites surgem como autoritárias por ‘essência’. Em outras palavras, a expressão ´autoritarismo das elites' é redundante”.
2) Segunda linha interpretativa: “em que medida a cultura do povo reproduz o autoritarismo das elites, uma vez que ‘as idéias dominantes de uma época são as idéias da classe dominante dessa época’. Neste caso, um observador poderia pensar na diferença entre duas culturas distintas e não na variação de grau do mesmo padrão de cultura. Elite continua sendo o paradigma: “Nesta perspectiva, a cultura do povo, em lugar de ser a recusa do que se passa na esfera das elites, seria, antes, um instrumento para a dominação