Ceticismo
Na história da filosofia ocupa o ceticismo uma posição singular. Isto se deve ao fato dele pretender ser uma forma de filosofar que não possui e nem sustenta doutrinas e dogmas.
E por doutrina filosófica entendamos o conjunto de teses que uma filosofia procura apresentar por meio de argumentos concatenados que, por fim, pretendam nos fazer crer que atingimos, por exemplo, algo de verdadeiro a respeito do que é investigado. Não importa que uma filosofia seja construída ou não na forma de um sistema de teses concatenadas e desdobradas por argumentos ou numa forma não-sistemática, isto é, por exemplo na forma de aforismos. O que importa é que se pretenda afirmar algo de absoluto e verdadeiro a respeito do tema filosófico exposto.1
Como veremos mais adiante, o cético não procura apresentar teses que afirmem com verdade absoluta, e aqui tanto faz se positiva ou negativamente, a respeito de um tema qualquer. Ele, de fato, não sustenta teses, pelo contrário, procura se manter afastado de qualquer espécie de enunciação que remotamente lembre o discurso tético. Mas se sua filosofia não pode ser considerada doutrinal da maneira acima exposta, se ela não pretende dizer o verdadeiro ou como algo seria em sua verdadeira realidade, então o que poderia ser essa filosofia que vai na contramão do que comumente nos acostumamos a entender por filosofia? Se o ceticismo não possui uma doutrina, então o que sobraria dessa filosofia?
Poderia parecer, à primeira vista, que francamente pouca coisa. Se uma filosofia não possui doutrina, então o que seria e teria a oferecer?
Antes de prosseguir, convém notar que quando nos referimos a ceticismo, estamos nos referindo ao ceticismo antigo. Mais especificamente ao ceticismo tal como apresentado por
Sexto Empírico nas suas Hipotiposes Pirronianas, e que também poderíamos denominar de ceticismo pirrônico em virtude da filiação que Sexto estabelece entre esse ceticismo e Pirro 2.
1