Cesário
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
... porque a morte não passa do corpo, que é
tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta.
Almeida Garret
Tema bastante recorrente na fortuna crítica, a equiparação entre literatura e realidade mostra-se bastante sedutora, entretanto merece olhares cautelosos de quem a explora. Objetiva-se, no presente estudo, abordar alguns pontos relevantes que competem à tênue fronteira entre poesia e realidade nos poemas dos autores Cesário Verde e Camilo Pessanha; tendo sempre em vista que os díspares períodos de produção poética, aliados aos traços pessoais de cada autor, desencadeiam dissonâncias em suas atitudes representativas. Para que não se desate numa análise pautada em generalizações simplistas, é necessário reconhecer as fronteiras fundamentais entre o real e o relato, destarte, sabe-se que o histórico e o literário distam-se essencialmente nas convenções de veracidade e ficcionalidade[1]. Ou seja, enquanto no discurso literário não há o comprometimento com a veracidade do discurso, cabe ao discurso histórico o compromisso com a verdade do relato. “Se a História representa o desejo de verdade, o romance representa o desejo de efabulação, com a sua própria verdade.” [2] Dito isso, é necessário conceber que a Literatura, enquanto enunciação de um sujeito, sempre será uma representação particular da realidade vista, ou sentida, por ele. Ainda que anseie exprimir o real com total imparcialidade, essa manifestação será ilusória, pois o real, quando perpetrado em palavras, sofre inevitáveis interferências das experiências inerentes ao sujeito. Tais vivências são responsáveis por enveredar numa interpretação pessoal de seu discurso, que por meio da distorção do real, transforma, assim, a verdade real em representação artística[3]. a obra de arte decorre do espírito, ela necessita de uma atividade subjetiva produtora,