Cesar idealizacao politica realidade democratica

Idealização política e realidade democrática Benedito Tadeu César * Dr. em Ciência Política, professor da UFRGS Temos, no Brasil, uma visão idílica dos partidos e da política. Sonhamos com políticos e organizações voltadas para o “bem comum”, ou seja, o bem estar de cada um de nós e da coletividade, como se definir o “bem comum” fosse algo fácil. Em nenhum lugar do mundo chegou-se, até hoje, a um consenso sobre o que sejam bons partidos, bons políticos e, efetivamente, o bem comum. Em todas as partes do mundo, a política se faz com vistas à imposição da ordem. De uma ordem que permita a vida coletiva. Quando esta ordem é construída e mantida de forma não violenta, participativa e com respeito às divergências, ela é democrática. Quando esta ordem é construída e mantida à força, sem participação e sem admissão de oposição, ela é ditatorial. Se não fosse tão difícil chegar-se a um acordo sobre o que é, em cada momento e lugar, o bem comum, não haveria necessidade da imposição da ordem, ou seja, não haveria a necessidade da política. Por este motivo, nas nações democráticas há políticos, partidos políticos, disputas e eleições. Por este mesmo motivo, nas nações autoritárias há oligarcas, camarilhas, enfrentamentos, guerras e mortes. Na maior parte das nações democráticas do mundo, os partidos políticos nasceram e agiram para congregar os que pretendiam construir a ordem pública que suas lideranças e seguidores acreditavam ser a mais adequada à coletividade. Por este motivo, diferentes partidos se organizaram, defendendo diferentes modos e formas de se construir e manter a ordem pública. Esta é a essência da própria democracia. Em nenhum lugar do mundo, entretanto, os partidos políticos reuniram cidadãos voltados exclusivamente à construção do “bem comum”. Em todas as partes do mundo, os partidos políticos foram e são constituídos por indivíduos que fazem política tanto para construir aquilo que consideram ser o “bem comum” (ou, ao menos, o bem do círculo de seus