celson furtado
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 30 ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2001 (Biblioteca Universitária. Série 2, Ciências sociais, v. 23). Primeira edição: 1959.*
Primeira Parte – Fundamentos econômicos da ocupação territorial
Os primeiros capítulos do livro buscam apresentar as relações econômicas e políticas que apontaram os rumos da colonização portuguesa no Brasil e também os processos nas demais colônias da América, dos séculos XVI ao XVIII.
Primeiro, trata de explicar as razões que levaram a estabelecer-se na América portuguesa uma empresa agrícola de larga escala. Assim como a Espanha, Portugal esperava que suas terras na América pudessem fornecer grandes quantidades de metais preciosos. Estava claro que a ocupação das terras seria necessária para garantir sua posse. No entanto, diferentemente da Espanha, que já havia conseguido explorar metais preciosos de forma a sustentar a ocupação, Portugal dispunha de recursos relativamente escassos para realizar essa mesma tarefa. Para tanto, Portugal contava com a experiência da produção de açúcar —uma especiaria em ascensão na Europa—em suas ilhas do Atlântico, detendo o conhecimento técnico que viabilizaria a ocupação com a exploração econômica. Além disso, o monopólio do comércio do açúcar, que no século
XV era controlado pelos comerciantes das cidades italianas, foi rompido com a distribuição da produção portuguesa pelos comerciantes flamengos, que já era expressiva na segunda metade do século XVI. Essa participação dos holandeses no fluxo do açúcar por toda Europa não estava limitada à etapa de comercialização, pois eles também contribuíram com investimentos de capital nas instalações produtivas localizadas no Brasil.
Quanto à questão da mão-de-obra, Portugal também detinha as condições para tornar o empreendimento agrícola da colônia economicamente viável. Tanto pela falta de mão-de-obra na metrópole, quanto pela falta de condições econômicas capazes de atrair colonos,