Castelos de gelo
-Estou começando a achar que terei que andar com lanças e escudos perto de você.
Abri os olhos lentamente ainda deitada em minha poça do meu próprio vômito, olhando para o garoto de cabelos pretos desgrenhados à minha frente, parecendo totalmente alheio às pessoas que estavam à nossa volta.
Seu tom de voz não tinha um pingo de humor, como se ele estivesse até mesmo chateado com toda a situação.
Mas de alguma forma, sabia que ele teria que se acostumar, afinal, ele era o meu novo guarda costa.
Quando é comigo as coisas parecem simplesmente não dar certo! Se fico feliz admirando um dia ensolarado, começa a chover; se finalmente meu cabelo fica “legalzinho”, meu meio irmão dá um jeito de estraga-lo; se passa três episódios de O incrível mundo do Gumball seguidos, falta energia.
É simplesmente maravilhoso.
Sintam o gosto levemente agridoce da ironia e da minha desgraça.
Será que isso acontece porque eu quebrei aquela xicara de Gumball quando eu era menor?
Pois é, as pessoas reclamam de quebrar espelhos, já eu me preocupo em não quebrar xicaras.
Correção: Xicaras do incrível mundo de Gumball.
Voltei a me concentrar no ser à minha frente quando tentei mexer a cabeça e senti a textura levemente viscosa do vômito prender mais em meus cabelos.
Não queria levantar, embora as sujeiras estivessem adquirindo uma segunda ou terceira pele em mim. Queria ficar parada, imóvel no chão da cozinha, único lugar da casa que tinha piso de madeira. Era até meio que confortável, e como aqui raramente chove, poderia até fazer um anjo mexendo os braços no vomito...será que daria para fazer um anjinho de neve no vomito, ai seria tipo, um anjinho de vomi-
-Pega minha mão- ouvi sua voz forte soar me acordando de meus medíocres e estranhos devaneios, para em seguida ver que o tal de William, agachado ao meu lado, estava com o braço estendido para mim, apoiando o cotovelo no joelho coberto por sua calça estilo militar preta.
Segurei sua mão meio indecisa se deveria pega-la ou