Caso hans
Devo agora proceder ao exame dessa observação do desenvolvimento e resolução de uma fobia em um menino de menos de cinco anos de idade, e vou ter que fazer isso de três pontos de vista. Em primeiro lugar, devo considerar até que ponto o exame dessa observação apóia as afirmações que fiz nos meus Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905d). Em segundo lugar, devo considerar em que medida ele pode contribuir para nossa compreensão dessa freqüente forma de distúrbio. E em terceiro lugar, devo considerar se pode ser feito de modo a projetar alguma luz sobre a vida mental das crianças ou a fornecer alguma crítica dos nossos objetivos educacionais.(I)Minha impressão é de que o quadro da vida sexual de uma criança apresentado nessa observação do pequeno Hans está muito de acordo com o relato que forneci (baseando meus pontos de vista em exames psicanalíticos de adultos) nos meus Três Ensaios. Mas antes de entrar nos detalhes dessa concordância, devo tratar de duas objeções que serão levantadas contra o fato de eu fazer uso da presente análise para esse fim. A primeira objeção é quanto ao fato de que Hans não era uma criança normal, mas (como os eventos — a própria doença, de fato — mostraram) tinha uma predisposição para a neurose, e era um jovem “degenerado”; seria ilegítimo, portanto, aplicar-se a outras crianças normais conclusões que talvez pudessem ser verdadeiras em relação a ele. Devo adiar a consideração dessa objeção, de vez que ela só limita o valor da observação, e não o anula completamente. De acordo com a segunda e menos comprometedora objeção, uma análise de uma criança conduzida por seu pai, que foi instilado ao trabalho com meus pontos de vista teóricos e infectado com meus preconceitos, deve ser inteiramente desprovida de qualquer valor objetivo. Uma criança, dirão, é necessariamente muito sugestionável, e muito mais por seu próprio pai do que talvez por qualquer outra pessoa; ela permitirá que