Casmurro
Vamos lembrar que Bentinho (personagem da obra de Machado de Assis) é narrador de sua história. Ele quer que o leitor acredite na suspeita que ele tem da infidelidade de Capitu, mas sem conseguir provar nada, como um bom advogado, tenta nos persuadir com seus textos na ambiguidade, como uma lei onde a sentença virá conforme a interpretação do juiz, dos seus valores e costumes.
Capitu, forte e decidida, apaixona-se por Bentinho, rapaz frágil e facilmente impressionável, e o espera sair do seminário para viver esse grande amor.Quanto tempo de espera? Capitu, moça de viço, que gosta de aparecer, de passear. Bentinho, homem de poucos amigos, inseguro, ciumento.
A história relata suposições doentiamente tiradas de uma cabeça fantasiosa, sem fatos concretos, uma explanação completamente unilateral sem testemunhas oculares,só suposições, o que faz ele desesperadamente tentar nos convencer que ele era vítima dos encantos de Capitu, onde ficaria escondida a indiferença e até a violência em que ele tratava a amada? Capitu, não teve voz, não pôde argumentar, mostrando que sem provas ninguém pode ser considerado culpado ate que se prove o contrário.
Na sua insegurança não deu vez a Capitu, descreveu-a como ele a via, como ele imaginava que ela seria no íntimo, com julgamentos sem procedentes e sem fundamentos, baseado somente na loucura insana e, quem sabe até um desejo de ser traído de verdade, para provar que era melhor que a dissimulada?
É fácil julgarmos ouvindo apenas uma versão dos fatos, é conveniente, dá menos trabalho, e faz parte do nosso cotidiano ir atrás do que está mais fácil. Sim, somos juízes o tempo