dom casmurro
DOM CASMURRO (velho)-(saindo atrás das cortinas) Uma noite dessas encontrei no trem um rapaz que eu conheço de vista e de chapéu, falou-me da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos podem não ser inteiramente maus. Sucedeu, porém, que como eu estava cansado, fechei os olhos umas três ou quatro vezes.Tanto bastou que ele começasse a chamar-me “Dom Casmurro”. Hoje por graça muitos amigos chamam-me assim:”Dom Casmurro,domingo vou jantar com você”, “Meu caro Dom Casmurro,não cuide que o dispenso do teatro amanhã”, “Dom Casmurro vê se deixas essa caverna”.(pausa, faz pose de ironia) Não consultes dicionários. O “Dom” veio por ironia,para atribuir-me algo de fidalgo(passando a mão no bigode), e o “Casmurro” por eu ser um homem calado e pensativo.(ri) Tudo por estar cochilando!.Sem querer o meu poeta do trem deu um nome para esta história que eu vou apresentar para vocês, se não tiver outro daqui até o fim da peça vai este mesmo: meu nome é Bento Santiago. (abrem-se as cortinas- à estão: Dona Glória,Justina ,Cosme e José Dias) Esta é a Prima Justina( indo a caminho da mesma) ,ela diz na cara da pessoa tudo que pensa, e diz por trás também,vive procurando defeito nos outros.Já passou dos quarenta faz tempo( estralando os dedos),desde que ficou viúva vive aqui de favor,mamãe gosta, esta é Dona Glória minha mãe,estamos em 1857 e ela tem 42 anos mas está bem conservada como vocês podem ver, apesar deste xale preto e do cabelo preso na nuca,desde que meu pai morreu que ela está assim. (olha com saudade para o tio) Este é o Tio Cosme,é advogado, trabalha no crime,suas defesas orais são perfeitas,gordo,pesado,respiração curta e parece estar com sono.É viúvo também, esta é a casa dos três viúvos.Titio quando era jovem teve muitas namoradas e se meteu em política. O tempo esfriou seu ardor