Carta a d alembert
Rousseau e a Carta a d’Alembert sobre os espetáculos: o ato de fundação de uma moral civil
3.1.
Crítica à instituição do teatro
Depois da comoção no mundo letrado da época com a publicação do primeiro
Discurso e, conseqüentemente, depois de todas as objeções panfletárias dirigidas ao seu conteúdo, poderia parecer – se estivéssemos sendo guiados pelas interpretações que insistem em acusar Rousseau de exagero sempre que ele afirma existir contra sua pessoa uma campanha difamatória – mais acertado de sua parte abdicar da crítica ao
Iluminismo. Mas acontece que, mesmo depois de ter abordado em seu Discurso a
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questão relacionada à emergência corrompida das ciências e das artes como forma de censurar diretamente a sociedade iluminista, sua apreciação das máximas do contexto do século XVIII não se esgotou. Seja porque as objeções de seus refutadores tomaram uma feição real de disputa, promovendo assim circunstâncias pontuais a partir das quais
Rousseau sentia-se na obrigação de tomar partido, seja porque, e principalmente, em nenhum momento ele se dissuadiu de conduzir até o último termo seu projeto de mostrar ser questionável a discrepância entre a prática e o discurso da era do esclarecimento. Interessa a Rousseau continuar a crítica que iniciou a caminho de Vincennes.
Embora o texto do Discurso tenha surgido de uma súbita iluminação, nada retira dele o caráter premonitório do que viria a ser um dos temas fundamentais do seu conjunto de idéias. Ainda que tenha sido confessadamente mal estruturada, esta foi a obra responsável, devido justamente ao seu caráter iluminador, por ensejar muitas outras, tanto circunstanciais quanto previamente planejadas. Não é à toa que o genebrino, a partir de sua estréia, supõe-se feito exatamente para dissipar os erros das doutrinas filosóficas daqueles com quem convive e os abusos da sociedade desigual na qual se encontra. Jogado, como ele mesmo confessa,