Carta de Pero vaz de caminha
Primeiro de maio de 1500
Senhor:
Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza [sobre] a nova do achamento desta vossa nova terra, que nesta navegação ora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar -, o saiba fazer pior que todos. Porém, tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual, creia bem [por] certo que - para aformosentar nem afeiar - haja aqui de pôr mais que aquilo que vi e me pareceu. Aqui não darei conta a Vossa Alteza da marinhagem e singraduras do caminho, porque não o saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto, senhor, do que hei-de falar, começo e digo:
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, nove de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã-Canária. Ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber, da ilha de São Nicolau, segundo dito do piloto Pero Escolar.
À noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, Vasco de Ataíde perdeu-se da frota com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrário para [tal coisa] acontecer; o capitão fez suas diligências para o achar, a umas e a outras partes; e [ele] não apareceu mais.
E assim seguimos nosso caminho por esse mar de longo, até terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, quando - estando obra de 660 ou 670 léguas da dita ilha, segundo os pilotos diziam, - topamos alguns sinais de terra, os quais eram: muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim outras a que também chamam rabo-de-asno.
E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E nesse dia, a horas de