Carolina Maria de Jesus
Autora: Fernanda Rodrigues de Miranda
De um ponto de vista macro, Carolina Maria de Jesus é uma escritora negra cuja obra se situa na exata encruzilhada entre ausência e presença no universo literário.
Inteira e negra presença, ali no meio século XX, quando surge na história do país, torna-se símbolo das contradições do projeto de modernidade nacional. De fato, logo que Quarto de despejo é publicado obra e autora são lançadas no mercado de bens simbólicos que coloca no centro do universo da cultura o discurso de um sujeito que estava à margem da sociedade. O texto de Carolina Maria de Jesus faz emergir então a complexa problemática existente em torno da legitimidade cultural do discurso literário de autoria marginal. Autoria marginal, embora o livro tenha saído por uma grande editora (Francisco Alves) e se tornado grande destaque no mercado editorial e na imprensa1.
A indústria cultural tirou bastante proveito da desigualdade social estruturante do projeto desenvolvimentista moderno – no caso, o semianalfabetismo da mulher negra, as condições insalubres de moradia – e a transformou em mercadoria de consumo: uma espécie de Vênus Negra nacional. O sistema é inteligente: alimenta-se de suas próprias sobras. E autofagicamente macabro: marginaliza para incorporar, incorpora para marginalizar, mantendo sempre a desigualdade.
9 de dezembro de 1962. Hoje eu estou triste. Não tenho dinheiro para comprar pão para os filhos. Fui pedir 100 a Elizabeth. O seu espôso disse-me que a Elizabeth, viajou para Santos. Tem pessôas que critica as viagens da Elizabeth. Mas eu não. A Elizabeth, e preta. Mas é feliz porque tem iluzão gosta de passear. Os pobres tem a iluzão que os ricos são felizes porque podem passear. E quando o pobre passêia pensa que é importante.
Eu tambem já fui assim.
Quando estava na favela e vivia de esmola
Depois que deixei a favela que vida desgraçada! Todos dizem que fiquei rica. porque o livro foi editado em 21 pais