Carolina Maria de Jesus - Ontem, hoje e sempre
Aqui, do alto do morro a gente acorda mais feliz, o Sol brilha mais forte, de Deus a gente vive mais perto.
- Matheus Wallace Montagnini
Essa estrofe talvez se aplique nos dias atuais para alguns moradores de "comunidades", que mesmo pobres e discriminados, acordam felizes, por terem esperanças de sobra, mais do que qualquer pessoa do "resto da cidade". Porém, na metade do século passado, mais precisamente em 1958, uma mineira de 43 anos, moradora da favela do Canindé em São Paulo, expunha a realidade da pobreza e do preconceito escrevendo em seu diário. Artisticamente descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, Carolina lançou um dos clássicos da nossa literatura que a tornou conhecida mundialmente, "Quarto de Despejo".
DESPEJAR! O ato de jogar fora o lixo, o inútil, o resto. DESPEJADO! O lixo, o inútil, o resto, aquilo que foi jogado fora. QUARTO DE DESPEJO! A favela!
Carolina, mesmo sem estudos, colocou em seu livro de forma unica toda a verdade sobre como era a favela, sobre o preconceito e a violência, o ódio e a opressão, sobre amar aquilo que não existe, agradecer pelo que não foi feito, comer aquilo que não tem, ela descobriu o que é FOME e DOR na prática, e achou conforto desabafando em folhas amassadas, rasgadas e sujas encontradas em um beco qualquer do "quarto"! Mas o tempo mal te faz esquecer, como poderia ele apagar as mágoas e trazer algo de bom? O tempo acaba quando você aceita o seu destino, quando não há forças nem para chorar. Carolina escreveu diversos livros e hoje é conhecida mundialmente por suas obras, mas nunca deixou de ser uma negra, pobre, favelada! Morreu como viveu, no anonimato, talvez não quisesse dinheiro, fama ou reconhecimento, talvez quisesse direitos, igualdade e a paz. Se Carolina não tivesse sido Carolina Maria de Jesus...as coisas terminariam do mesmo jeito que terminaram.
Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida.
Digam que eu