Caridade e filantropia
Em cada momento presente da vida há um passo de envelhecimento e de renovação [...] Renovar-se que é morrer e renascer para tornar a falecer e a reviver. Cada instante vital é uma criação, uma recriação. É uma cópula do passado, das potenciais sobrevivências que o indivíduo traz encarnadas consigo, e do presente, das possíveis circunstâncias que o ambiente oferece; de cuja contingente conjunção com a individualidade nasce o porvir, que é a variação renovadora.
Fernando ortiz, El engaño de las razas (1946)
As duas modas, a da psicanálise e a das ciências ocultas, têm em comum sua oposição à ideologia e ao modo de vida transmitidos pela “sociedade burguesa de consumo”, em outras palavras, pelo establishment. […] Elas expressam, cada uma à sua maneira, aquilo de que o homem moderno sente falta, e sua esperança de uma renovação espiritual que ao fim daria um sentido e uma justificação à sua própria existência.
Mircea eliade, Journal III: 1970-1978
Fernando Ortiz é hoje conhecido principalmente pelo conceito de transculturação, que se difundiu a partir da publicação de seu livro fundacional, Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar, de 1940 (Ortiz, 1963). Transculturação chegou a constituir-se em um centro conceitual dos debates culturais
Este ensaio é uma versão do capítulo que apareceu em meu livro Sobre los principios: los intelectuales caribeños y la tradición (Díaz Quiñones, 2006). A noção de
“princípios” é uma homenagem a Edward Said e a seu importante livro Beginnings: intentions and method (1975). Traduzido do espanhol por Pedro Meira Monteiro.
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Fernando Ortiz e Allan Kardec: espiritismo e transculturação
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e literários contemporâneos1. Contudo, os começos intelectuais de Ortiz, tradicionalmente tratados como uma etapa positivista e