Capitu e a questão do simulacro
768 palavras
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Tudo que é nebuloso, enigmático e oculto nos desperta inquietação. A curiosidade é inerente ao ser primordialmente, pois temos a noção de que nada o é simplesmente por ser e fim de história. O direito da dúvida nos é dado enquanto infinitas variáveis forem possíveis. Narrativa conhecida por seus enigmas, - dos quais desponta a questão recorrente: Capitu traiu ou não traiu? -, “Dom Casmurro” nos apresenta personagens (Bentinho, Capitu e José Dias) que formam uma espécie de eixo narrativo, e que nos leva às noções de voz, narrador, personagem e focalização. A figura de Bento Santiago é a primeira a surgir, quando ele mesmo (alcunhado Dom Casmurro) anuncia a narração de sua história, dado o intervalo considerável entre o tempo de narração e o tempo dos fatos narrados por ele. Toda impressão que temos ao longo da história é referencial, pois a narrativa nos é dada a partir de um ponto de vista só, mas o que haveria do outro lado? O que as outras personagens pensam, sentem e veem? Qual é a verdade absoluta dos fatos e o que a visão onisciente nos mostraria?
É em parte devido a José Dias - no aspecto dos fatos - que o eixo principal é formado dentro da narrativa. Ele flagra o interesse de Bento por Capitu, fato até então fora do campo de consciência do narrador. Capitu, por outro lado surge - sobretudo - a partir desse campo de consciência, tornando-se pouco a pouco o “objeto” focalizado por ele. Acompanhando o desenvolvimento da história, isso acontece depois que Bentinho - por promessa de sua mãe - é mandado ao seminário, enfim longe de Capitu, presença da qual desfrutou por certo tempo. Isolado por uma promessa e vítima de seu próprio vazio, Bentinho cria imagens: “Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.” A partir daí, a enunciação do narrador será influenciada pela insegurança e incerteza acerca de Capitu; a focalização narrativa se dará da forma que ele quiser, e é