Capitalismo dos Técnicos e democracia
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Revista Brasileira de Ciências Sociais, 20 (59), outubro 2005: 133-148.
O século XX ficará conhecido no futuro por muitas mudanças importantes: foi o século do progresso tecnológico, das organizações mais do que das unidades de produção familiares; o século em que o número de burocratas ou de técnicos aumentou a ponto de merecerem ser identificados como uma classe social — a classe média profissional.
Juntamente com essas mudanças, foi o século em que o conhecimento acabou se tornando o fator de produção decisivo, e o controle do conhecimento tecnológico, organizacional e comunicativo tornou-se estratégico. No entanto, foi também o século da democracia, que representa um freio a esse novo poder, ao mesmo tempo em que é condicionada por ele.
Enquanto ocorriam mudanças nas esferas social e política, as economias experimentaram enorme crescimento e tomaram-se muito mais complexas. Nesse processo, os mercados assumiram um papel importante na coordenação da economia — alocando fatores de produção empregados pelas empresas comerciais —, mas, obviamente, a coordenação de todo o sistema ultrapassou em muito suas possibilidades.
Na esfera política macro, o papel do Estado e do sistema institucional ou legal que ele cria e impõe cresceu extraordinariamente. No âmbito da sociedade civil (da sociedade politicamente organizada), as organizações corporativas e, em um segundo momento, as organizações de responsabilidade social cresceram em número e influência, agindo como mecanismos de controle dos governos. Ao mesmo tempo, na esfera econômica, as grandes corporações e todos os outros tipos de grandes organizações tomaram-se predominantes em toda parte. As empresas exigiam empresários, as organizações precisavam de administradores ou técnicos ou profissionais abrangendo um espectro cada vez maior de especialidades. As organizações continuam a exigir ação empresarial ou inovadora, mas o