cap 2 - modernidade liquida
Em primeira análise, duas visões distópicas sobre o trágico futuro do mundo foram lembradas pelo autor: O mundo de George Orwel e o de Aldous Huxley. Eles compartilhavam de um pressentimento de um mundo controlado, da liberdade individual reduzida e rejeitada por pessoas treinadas a obedecer ordens e seguir rotinas estabelecidas. Ambos sentiram que a tragédia do mundo era seu ostensivo e incontrolável progresso rumo à separação entre os mais poderosos e remotos controladores e o resto, destituído de poder e controlado.
Capitalismo – pesado e leve / Tenho carro, posso viajar
As histórias de Orwell e Huxley poderiam ter sido classificados como “discurso de Joshua”, onde a ordem é a regra e a desordem, uma exceção. Aqui, o mundo é organizado e delimitado por fronteiras impenetráveis. Tudo serve a algum propósito, e a própria ordem é, ela mesma, seu próprio propósito. Deus a fez existir e a tarefa de projetar e servir à ordem cabe aos homens. O que sustentava o discurso de Joshua era o mundo fordista, um modelo de industrialização, acumulação e regulação, separando projeto de execução, liberdade de obediência.
O fordismo era a autoconsciência da sociedade moderna em sua fase “pesada”, “sólida”. Nesse estágio, capital, administração e trabalho estavam condenados a ficar juntos talvez para sempre. O capitalismo pesado era obcecado por volume, tamanho e fronteiras firmes impenetráveis.
Agora, o trabalho permanece tão imobilizado quanto no passado, mas o lugar em que ele imaginava estar fixado perdeu sua solidez. Alguns dos habitantes do mundo estão em movimento, para os demais é o mundo que se recusa a ficar parado. O discurso de Joshua, então, começa a soar vazio.
Na passagem do capitalismo pesado para o leve foi considerado um novo tipo de incerteza: não saber os fins, em lugar da incerteza tradicional de não saber os meios. O que está em pauta é considerar e decidir, diante dos riscos,