cantos ameríndios

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Os cantos ameríndios oferecem novas maneiras de pensar, ver e estar no mundo. Transmitidas oralmente de geração em geração, as narrativas míticas ameríndias trazem perspectivas poéticas e filosóficas sobre a formação da vida, a relação entre antepassados e espíritos, a convivência harmoniosa com a natureza, além de processos de curas medicinais e registros históricos milenares. Embora tenham muito a nos ensinar, continuam ignoradas pela maioria dos brasileiros, deixadas de lado dos currículos escolares e dos cânones literários. Porém, no momento em que os povos indígenas enfrentam uma batalha decisiva por terras e pelo reconhecimento de seus direitos previstos na Constituição de 1988, linguistas, antropólogos e poetas se esforçam em documentar e traduzir parte dos seus complexos universos narrativos. De acordo com Cesarino, no Brasil atual fala-se pelo menos180 línguas indígenas — todas muito pouco traduzidas e publicadas. Partindo do princípio de que cada uma delas contém um mundo e uma estética própria, é possível imaginar a diversidade poética espalhada pelo país. Suas narrativas míticas são um grande desafio para a crítica literária, já que é muito difícil compreender suas formas de pensamento. Além do mais, elas originalmente não são escritas, mas aparecem sob a forma de cânticos e rituais como danças e performance.
Documentar e traduzir cantos ameríndios não são uma tarefa fácil. Exige tempo e conhecimento de línguas raras. Mas não basta apenas versá-las para o português — é preciso também compreender a complexa cosmogonia dos povos. Daí a importância do tradutor (seja ele antropólogo, linguista ou poeta) estabelecer uma relação de troca e confiança com a comunidade e seu xamã — ou pajé, como também é conhecido. Espécie de feiticeiro, médico, curandeiro, conselheiro e adivinho dos povos, cabe a ele transmitir as falas e cantos dos espíritos dos animais, das árvores e de outros elementos daquilo que o pensamento ocidental traduz como “natureza”. Não por

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