Cabeça de Corvo
O poema de Alphonsus de Guimaraens apresenta em sua composição uma estrutura pouco usual. É composto de cinco estrofes com quatro versos em cada uma delas. Nas estrofes ímpares, os três primeiros versos são decassílabos, enquanto o quarto se mostra uma sextilha. Já nas estrofes pares, todos os versos da estrofe são decassílabos. Além disso, quanto à rima, o poema em toda a sua composição rimas interpoladas em ABBA. Nascido em 1870, Alphonsus de Guimaraens foi um poeta de cunho simbolista, estilo de época que era marcado pelo subjetivismo e ênfase no imaginário e na fantasia. Dentre suas obras, escreve em A Cabeça de Corvo a composição de uma poesia. Ele apresenta este tema numa gradação: desde a pena, até ela tocar o tinteiro para enfim a realização da poesia. O uso de metáforas no poema é uma marca fundamental do poeta, que parte da imagem metafórica da cabeça de um corvo para chegar à ideia da pena que irá escrever o poema. A escritura do poema passa também pelas sensações que o autor sofre, talvez por emoção, talvez por medo. A todo o momento o eu-lírico conta as etapas da elaboração do poema que escreve. Dor, tremores são alguns dos sentimentos que ele sofre ao realizar sua obra. Todo o poema tem uma linguagem fúnebre, mórbida e até certo ponto trágica. Sempre cronologicamente, desde o colocar a pena sobre o papel até a realização final do mesmo. Em paralelo com os sentimentos pesados que a composição do poema lhe causa. Na última estrofe do poema, o eu-lírico apresenta a solução para que tais sentimentos acabem: ele deve atirar o “agoirento corvo”, pois ele causa o terror dos versos que ele escreve. Porém, ao não sentir tais sensações, como o poeta terá a inspiração para escrever? É o terror, o medo, a tremedeira que fazem com que o poema ganhe a profundidade e a importância que tem.