bruxas idade média
As mulheres que tanto a história como a imaginação popular mitificaram como "bruxas" constituem figuras que expurgam as fobias da Contra Reforma. As bruxas foram torturadas e queimadas para sinalizar os perigos de práticas e saberes à margem da Igreja e de outras instituições dominantes na Idade Moderna. Parteiras, curandeiras e carpideiras, as bruxas misturam em seu caldeirão os mistérios da vida e da morte herdados das tradições pagãs. Este artigo percorre textos de historiadores, em especial o de Jules Michelet, que no século XIX construiu a imagem romântica e martirizada da bruxa, e o manual de inquisidores do século XIV, o Malleus Maleficarum, que descreve os poderes da bruxa, sua aliança com o demônio e sua ameaça para o cristianismo. Os discursos instaurados por tais textos constroem tanto a imagem que glorifica a bruxa quanto aquela que a execra, mostrando ambas o potencial transformador de suas práticas e de sua ligação com a sexualidade.
“A vítima na Idade Média é a figura da mulher, um combustível alimentado pelo saber que ela acumulara no decorrer do tempo e que representava uma constante ameaça a alguns seguimentos da sociedade. As camponesas, pelo fato de serem seladas pela pobreza, cuidavam-se umas das outras, numa espécie de sistema de saúde doméstica e cultural. Elas precisavam conhecer o poder medicinal das ervas cultivadas pelos seus ancestrais, e sabiam aplicá-las no seu dia-a-dia. Antecedendo a isso, manifestava-se entre elas a noção de conhecimentos da anatomia e fisiologia humanas, chegando a praticar o ofício de parteiras ambulantes, indo de aldeia em aldeia, atendendo às necessidades umas das outras. Dessas práticas, diversificou-se e multiplicou-se o exercício da medicina popular,