Brasília: utopia que lúcio costa inventou
O presente ensaio (1) é, antes de mais nada, o registro sucinto das manifestações de um sonhador que sonhou acordado.
É sabido como o urbanista inscreveu a proposta no concurso: entregue na última hora, com “apresentação sumária”, representação gráfica singela e a mais poética das argumentações. Poesia que não perturbou a apreciação do júri, que anotou na ata final:
“Seus elementos podem ser prontamente apreendidos: o plano é claro, direto e fundamentalmente simples – como o de Pompéia, o de Nancy, o de Londres feito por Wren e o de Paris de Louis XV” (2).
Brasil voltado para o futuro
Desculpando-se da “espontaneidade original” da sua proposição, a idéia que o urbanista oferecia, como ele próprio ressaltou, foi “intensamente pensada e resolvida”. A completude da proposta, corroborada na apreciação do júri, revela um devaneio, um projeto de desbravamento da nação, simbolizado no “gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse”¸conforme escreveu na Memória descritiva do Plano Piloto em 1957:
“Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradição colonial” (3).
O lugar ganha sentido. Uma atitude de afirmação, de auto-afirmação, um projeto de nação, como Lúcio Costa asseverou em 1967:
“Fruto embora de um ato deliberado de vontade e comando, Brasília não é um gesto gratuito de vaidade pessoal ou política, à moda da Renascença, mas o coroamento de um grande esforço coletivo em vista ao desenvolvimento nacional – siderurgia,